Em Fevereiro de 2022 estava a aproximadamente um mês de terminar o meu estágio Erasmus+ em Itália, que se tinha seguido à conclusão de uma licenciatura em Literatura Comprada. As poucas prespetivas laborais começaram a preocupar-me e a ideia de regresso assustava-me, enquanto não conseguia estruturar um plano de eficácia económica e alguma realização pessoal. Mais tarde, surgiu a oportunidade de relizar um estágio ATIVAR.PT (e remunerado de acordo com as minhas qualificações) na companhia de teatro UMCOLETIVO, usufruindo da medida estatal que têm como objetivo promover a empregabilidade de vários grupos sociais, como dos jovens à procura de um primeiro emprego após formação.
Pessoalmente, tenho tido uma experiência bastante positiva e enriquecedora, onde tenho podido aprender imenso de áreas que me interessam na prática (investigação literária e recolha oral ou de campo, dramaturgia, produção, cenografia etc.), estou inserida numa equipa multidisciplinar cujas co-criações nascem de um processo coletivo de partilha e onde posso obter ferramentes para um possível futuro profissional, que ainda não sei exatamente como será. Acredito que é uma excelente oportunidade para explorar e exprimentar, aprender e descobrir no que mais me interessa focar, sabendo que um estágio não têm as mesmas exigências e objetivos que um “já emprego definitivo”, permitindo-me estar envolvida comigo num processo de procura e encontro que não esquece a importância do trabalho em coletivo e para a comunidade.
Por outro lado, a necessidade premente da formação em contexto de trabalho, dos estágios e da prática nos dias de hoje, decorre também e na minha prespetiva, de uma falha maior, de base, das nossas licenciaturas, mestrados e no limite até, douturamentos. Um limite que temos visto, inclusive, pela oferta precária de estágios não remunerados, tantas vezes aceites por jovens que precisam de ganhar experiência prática na sua área de estudos. A distinção assertiva entre universidades e politécnicos, tem sobravlorizado os ensinamentos teóricos ao invés da técnica e prática, levando a discrepâncias gigantes nas qualificações obtidas em diferentes cursos (mesmo que a temática seja igual) além de sobrecarregar sempre quem procura aliar a teoria à prática (politécnicos com uma carga horária muito maior). É urgente assumir a necessidade da componente técnico-prática nas nossas formações, que exige uma reformulação nos nossos estereótipos de divisão do trabalho intelectual e manual, prático e teórico para um paradigma que reconheça como um não existem sem o outro.
Finalmente, é importante usufruírmos destas medidas financiadas e pensando-o económica e estratégicamente, por um futuro profssional com melhores condições. Ainda é necessário lutarmos por direitos laborais e acabarmos com o flagelo dos estágios não remunerados ou com a circularidade daqueles que se aproveitam de medidas como esta para obter mão de obra barata e nunc vincularem trabalhadores. Ainda assim, acredito que para aqueles e aquelas que puderem, esta é uma excelente oportunidade para estabelecerem contacto com uma entidade na qual gostassem de trabalhar, procurando ganhar experiência na área, focando-se também na continuidade profissional que esta experiência pode trazer, seja para a mesma ou outra entidade.
Raquel Pedro