Este mês - Dezembro - celebramos os Direitos Humanos e hoje trazemos uma entrevista que nos permite reflectir sobre Democracia. Para isso, convidámos o João Morgado, o atual Presidente da JSD de Abrantes e membro da Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de São Miguel do Rio Torto e de Rossio ao Sul do Tejo.
De onde surgiu o teu interesse por política?
No liceu. Mas não só. Começou em casa sem me aperceber bem. Cada vez que, ainda em adolescente conversava com o meu pai sobre o estado do país e de que forma o país poderia estar melhor. Na escola o estímulo foi mais intenso, com atividades muito ligadas à cidadania ativa como o Parlamento dos Jovens.
Porque decidiste entrar para uma juventude partidária? Não pensas que as juventudes partidárias são elitistas ou pensas que representam todos os jovens?
Decidi entrar porque sempre achei que se queremos mudar alguma coisa temos que dar de nós para a mudança. Existem várias formas, seja através do associativismo ou do ativismo, mas achei que o que faria mais sentido seria dentro de um partido político.
Quanto à segunda parte da pergunta eu acho que não. Uma coisa é os partidos estarem distantes das pessoas, outra é serem estruturas elitistas. Não é isso que devem ser. A JSD, a JS ou qualquer outra juventude partidária devem representar todos os jovens que se identificam com os partidos e com as ideologias e as suas propostas. É difícil numa democracia existir uma instituição que represente TODOS, e ainda bem que o pluralismo das ideias encontra sempre pessoas diferentes para o defender de diferentes formas.
Como jovem que é membro de uma Assembleia de Freguesia, como te sentes num meio ainda dominado por pessoas mais velhas?
Senti na campanha eleitoral e sinto nos comentários feitos sobre a minha idade, que são deselegantes. A idade não pode nem é sinónimo de maior maturidade ou maior conhecimento. A experiência ajuda bastante, mas não chega para se desempenhar bem um cargo político. Mas sinto me bastante motivado sobretudo pelas pessoas que me vão dando força para continuar e que a cada dia que passa vão esquecendo as barreiras da idade e já me reconhecem como alguém capaz de desempenhar o cargo a que me propus.
A abstenção continua a ser um problema em Portugal, especialmente entre os jovens, porquê?
Creio que a Abstenção é um fenómeno de resposta ao descontentamento com a democracia, e sim é um problema. No entanto as taxas de abstenção variam de eleição para eleição. Normalmente quando as eleições são mais disputadas elas tendem a descer. A única forma de no curto prazo resolver o problema será instituir o voto obrigatório, solução com a qual não concordo, pois apesar de levar à redução da abstenção pode gerar uma maior polarização.
Será que os jovens não estão interessados em política ou que a classe política não faz o suficiente para atrair os jovens?
É uma “pescadinha de rabo na boca”. Os jovens tem outros interesses e os políticos não fazem o suficiente para os atrair. Dar se a conhecer, buscarem estar próximo não só dos jovens mas de toda a população pode ser uma forma. Da trabalho mas pode trazer resultados. Debates nas escolas secundárias, envolver os jovens em atividades cívicas que acabem por mostrar que a chave da mudança passará sempre pela política.
Como podemos atrair mais jovens?
Já dei algumas sugestões nas questões anteriores. Tive a sorte de crescer num ambiente onde se conversava sobre política, nem todos temos essa sorte. Há pais que não se interessam, logo os filhos têm de receber o estímulo por outro lado, a escola e as redes sociais tem um papel preponderante nisso. A política não é tão complicada de perceber, mas é preciso que alguém explique isso.
Tu vives no interior de Portugal, como podemos garantir que o interior, principalmente os jovens que aí vivem, não são esquecidos?
Primeiro que tudo são discriminados e não há que ter medo de dize-lo. Aliás é importante dize-lo. Mas isso não deve desmotivar nem os jovens nem os decisores de lutar pelas suas terras. Creio que uma desconcentração e a mudança de alguns serviços para outras cidades poderá ajudar. Se for criada uma política de discriminação positiva as empresas que se instalem e paguem impostos em territórios com baixa densidade populacional, por exemplo, poderá ser uma solução para garantir que os jovens do interior não ficam esquecidos.
O número de regimes autocráticos está a aumentar no mundo, acreditas que a democracia em Portugal pode estar em risco?
Não quero acreditar nisso, apesar de concordar. De dia para dia vemos ataques à democracia, seja pela confusão entre o que é público e o que é partidário, seja pelas atitudes injustificadas de muitos atores políticos. A renovação das caras dos partidos poderá ser um incentivo para recuperar a confiança dos portugueses.
E que pode cada um de nós fazer para salvaguardar a democracia portuguesa?
Não fugir de falar sobre os temas da atualidade quando estamos com amigos na mesa de um café, votar, associarmo-nos a causas com as quais concordamos, seja o ambiente, a habitação, a literária financeira, a digitalização, ou até um partido político.
Uma recomendação de um livro.
Quando me perguntam isto normalmente respondo o livro que estou a ler, neste caso estou a terminar “A Confissão da Leoa” de Mia Couto, mas também outro que comecei a ler “O Descontentamento da Democracia” de Michael J Sandel.