No ano de 2019 estava então a acabar o meu ensino secundário quando o meu DT, vulgo diretor de turma, me pediu para repassar pelos meus colegas um email com informações sobre o programa Ocupação de Tempos Livres (OTL). Curiosa como sou e com o objetivo de continuar o meu percurso escolar no ensino superior sabia que, à priori, precisaria de um bom pé-de-meia capaz de me ajudar a pagar as temerosas propinas. Neste sentido, decidi pesquisar mais sobre o dito OTL.
Após a minha pesquisa e com a ajuda de algumas pessoas já conhecedoras deste programa, submeti então a minha candidatura consciente de que, caso levasse este projeto para a frente, seria sujeita a algum tipo de remuneração e, para uma jovem prestes a ingressar no ensino superior, todo o dinheiro seria bem vindo. Honestamente, o que me interessava mais no início era mesmo esta vertente económica.
Posto isto, o processo da entrega da candidatura e da inscrição dos adolescentes foi, para mim, um pouco moroso e burocrático. Ainda assim, com esforço e dedicação, tudo se conseguiu: a candidatura foi aprovada e tive ao meu encargo durante duas semanas cerca de 12 adolescentes.
Neste sentido, reconhecendo que era verão e nenhum adolescente queria estar preso a atividades semelhantes àquelas a que estamos sujeitos durante o período escolar, decidi focar-me em coisas diferentes. Assim, do meu projeto OTL destaco atividades como idas à piscina, caminhadas culturais, a criação de cartazes elucidativos sobre as alterações climáticas e sobre os direitos humanos, e ainda a criação de uma mascote do projeto com recurso a materiais recicláveis.
Assim, se, inicialmente, o que mais me preocupava era o dinheiro que eu ia receber no final da execução do projeto, rapidamente tudo se tornou em algo muito maior. Para além das ligações de amizade que criei com alguns dos adolescentes inscritos, desenvolvi com o projeto “Divertir a Mente” competências que nem eu sabia que tinha. Com este projeto passei a colocar-me muito mais do lado do outro e a compreendê-lo melhor, isto porque, dentro do leque dos 12 adolescentes que tinha, alguns deles eram provenientes de contextos sociais débeis, tendo também idades muito diferentes - entre os 12 e os 17 anos - o que me obrigou a ser bastante flexível.
Para além do supramencionado, este projeto ajudou-me a perceber que, no futuro, seria possível conjugar as áreas com as quais mais me identifico: a lecionação, o contacto com os jovens e a política. Assim, agora licenciada em Estudos Europeus, sei que o meu objetivo não será, necessariamente, enveredar pela área da criação de políticas, mas sim pela desconstrução de ideias pré-concebidas sobre aquilo que é a União Europeia e sobre qual o impacto da mesma a nível nacional, nomeadamente ao nível de temáticas tais como a proteção dos direitos humanos.
Em suma, um projeto que, inicialmente, existia pelo conforto económico que me traria, passou rapidamente para um projeto que me fez crescer enquanto pessoa e que me ajudou a perceber aquilo que eu queria para o meu futuro.
Maria Chambel