Necessário – Uma das palavras que descrevem o que sinto em relação ao Erasmus. Mesmo havendo o risco de se reprovar um ano ou um semestre, que por acaso foi o que me aconteceu, acho que o Erasmus é uma experiência pela qual todos os estudantes deviam passar.
Experienciar em primeira mão uma cultura e métodos de ensino diferentes aos quais não estamos habituados; criar laços com pessoas de diversas nacionalidades; para alguns, a primeira vez que vivem sozinhos, sem ter quem lhes faça a comida ou lhes lave a roupa. Todos estes fatores, entre muitos outros, são o que torna o Erasmus na experiência tão incrível que é. Por mais livros ou filmes que uma pessoa veja, nada se compara à convivência diária com pessoas de diferentes culturas. Convivência tal que pode até ser capaz de desconstruir muito daquilo que sempre tomamos por assumido e que nos permite ver para além do muro que, por vezes, nos barrava o caminho.
No meu caso, eu escolhi realizar o meu Erasmus na bela cidade de Brasov na Roménia, onde pude contemplar um cenário completamente oposto àquele a que estava acostumado. Tendo nascido em Santa Maria – Açores, habituado a um clima tropical e rodeado pelo mar, vi-me, pela primeira vez na minha vida, rodeado de montanhas e de neve para onde quer que olhasse – até achei engraçado quando, num dia em que estava a tremer de frio, um cidadão romeno me diz que aquele estava a ser um inverno bem agradável comparativamente a outros passados. Outra coisa que só me é possível devido à minha longa estadia no país, proporcionada pelo Erasmus, é poder desacreditar muitos dos estereótipos que me foram impingidos acerca da Roménia, especialmente no que toca à raça cigana. Ao saberem o meu destino, alguns membros da minha família e amigos, sentiram-se um tanto preocupados com a possibilidade de me vir a acontecer algo de mal. Pois bem, aproveito este momento para dizer que tais estereótipos não fazem jus à realidade. Nunca me deparei com nenhum dos problemas de que tanto me tinham alarmado, pelo menos não mais do que aqueles que já testemunhei em Portugal ou qualquer outro país que já tenha visitado.
Relativamente ao ensino, devo afirmar que, pelo menos na universidade em que estive, este era relativamente mais relaxado comparativamente ao que estou habituado. No entanto, tal afirmação não significa que os estudantes de lá saibam menos que os de cá! Enquanto que em Portugal, pelo menos nas áreas de engenharia, o ensino consegue ser bastante teórico e à base dos cálculos, na Roménia eles focam-se mais na parte prática e funcional daquilo que nos está a ser ensinado. Por exemplo, acredito que se fosse fazer um exame de Portugal com o que me foi lecionado na Roménia, sentiria uma enorme dificuldade em obter uma nota satisfatória. Por outro lado, num dos departamentos de investigação da universidade da Roménia, existia cerca de uma dúzia de carros de fórmula 1 desenvolvidos pelos alunos da universidade, e foi-me também dada a possibilidade de trabalhar com alguns dos softwares de engenharia mais bem galardoados da altura.
Assim sendo, reafirmo a minha palavra chave no que toca ao Erasmus – Necessário. É uma das poucas oportunidades que podemos vir a ter de experienciar o que é viver noutro país, sem que haja necessidade de uma mudança drástica na vida, como uma mudança de emprego ou de casa. Ainda assim, acredito que seja uma experiência ainda melhor, simplesmente pelo facto de termos a oportunidade de a viver com jovens de diferentes partes do mundo que embarcam na aventura com o mesmo entusiasmo e emoção que nós.
Miguel Batista