A Lituânia nunca foi um país que me dissesse muito. Nos meus tempos de adolescente lembro-me vagamente de obrigar-me a arranjar mnemónicas para decorar esses “países de Leste” com nomes estranhos e distantes. Aparentemente uma das competências da Geografia do ensino básico era saber apontar no mapa todos os países da Europa e respetivas capitais. Competência alcançada sempre com grande distinção. Modéstia à parte, sempre tive boa memória (e igualmente boas mnemónicas).
Anos passados e encontrei-me eu no aeroporto, de malas aviadas pronto a embarcar rumo a leste – à Lituânia. Dez meses que seriam passados em regime de voluntariado numa biblioteca ao abrigo do programa da Comissão Europeia denominado SVE (ou EVS para quem é mais international).
Em Plungė, uma pacata vila a 300 km de Vilnius, encontrei um novo modo de viver, mais sereno, livre e verdadeiro. A biblioteca municipal, localizada num belo edifício histórico embrenhado num grande parque verde passou a ser o meu novo local de trabalho e de aprendizagens. Não se pense que passei os dias apenas rodeados de livros, a catalogar e a limpar-lhes o pó! A biblioteca era acima de tudo um local social, onde todos, novos e velhos, se encontravam. Foi lá que tive o meu primeiro contacto com a língua local, onde troquei as minhas primeiras impressões sobre a dualidade das realidades/vivências/costumes… Deram-me espaço para escrever no jornal local, dar workshops de inglês, dinamizar o espaço infantil, fazer tours pela vila, ajudar o suporte de média e materializar um projeto de leitura entre crianças e cães!
O SVE deu-me igualmente um país cheio de outros voluntários, de diversos países, empenhados em fazerem a diferença e a desafiarem-se, tal como eu. Os fins-de-semana eram passados com muita frequência a saltar de casa em casa num périplo nacional de fazer inveja à Volta à Portugal….
O que ao início me parecia irremediavelmente estranho (o tempo, a língua, o dia-a-dia, a dinâmica social…) foi-se tornando aos poucos e poucos bastante familiar. Tão familiar que chegado ao fatídico dia de regresso, findos os 10 meses, o desejo de ficar era imenso. Na verdade não tardou o meu regresso para matar as saudades da minha família . Anseio pela próxima!
Vitor Marques