Um Ano em França

Quem me conhece sabe que não consigo estar parada. Depois de acabar a faculdade, voltei para Portugal mas sentia-me presa e a trabalhar em algo que não me realizava. 

Em anos anteriores já tinha estado quase duas vezes para participar no Corpo de Solidariedade Europeu, mas acabou por nunca acontecer. Como dizem: à terceira é de vez e, em Agosto de 2021, fiz as malas e mudei-me para França onde estou a fazer o projeto na Cruz Vermelha Francesa durante 12 meses. Cheguei a Paris no dia 30 de Agosto e fiquei a conhecer outros voluntários que estão na mesma organização que eu, mas em cidades distintas. A conexão foi imediata, o que me fez sentir integrada e menos nervosa. Durante o programa, também existem dois seminários organizados pela agência nacional francesa, em que ficamos a conhecer outras pessoas jovens que estão a participar no Corpo de Solidariedade em França. E, na verdade, encontrei tantos portugueses que me sinto sempre em casa!  

Vivo em Poitiers, no Oeste de França que, apesar de calmo, tem um grande problema a nível social. No polo da Cruz Vermelha em que estou inserida existem vários serviços: apoio a vítimas de violência doméstica, requerentes de asilo, emergência social, loja social e muito mais. Eu  tenho a sorte de poder trabalhar nos vários serviços existentes, por isso, os meus dias nunca são iguais: um dia posso estar de noite na carrinha a dar apoio nas ruas a pessoas sem-abrigo e, no dia seguinte, estar de manhã na recepção da unidade local de Poitiers a receber pessoas que necessitam de ajuda social. Também faço atividades com jovens vulneráveis e trabalho no serviço de domiciliação. 

Uma vez que a Cruz Vermelha é uma organização nacional com vários pólos, tive a oportunidade de passar alguns dias a trabalhar  nos campos de refugiados em Calais e Dunquerque. Um dos objetivos destes programas é promover os valores europeus e não podia ter uma melhor experiência para isso, pois os valores europeus são para ser praticados para com todos, independente da religião ou nacionalidade e, não só com os nossos vizinhos.

Antes do programa andava um pouco perdida sobre o que queria fazer profissionalmente. Sempre soube que queria trabalhar em ajuda humanitária mas não sabia especificamente qual a área. Não posso dizer que descobri todas as respostas (se é que alguma vez vou descobrir), mas este programa tem vindo a ajudar-me a descobrir quais áreas gosto mais e quero seguir. E, como a minha mãe diz, estou a ganhar “estaleca” para a carreira que quero seguir. 

Não posso dizer que o início foi fácil: uma língua que não domino, um briol horrível e as eternas saudades dos pais. Mas, agora que faltam 3 meses para regressar a Portugal, já não quero sair daqui. 

Teresa Valente

Viskas Bus Gerai

EVS Vitor

A Lituânia nunca foi um país que me dissesse muito. Nos meus tempos de adolescente lembro-me vagamente de obrigar-me a arranjar mnemónicas para decorar esses “países de Leste” com nomes estranhos e distantes. Aparentemente uma das competências da Geografia do ensino básico era saber apontar no mapa todos os países da Europa e respetivas capitais. Competência alcançada sempre com grande distinção. Modéstia à parte, sempre tive boa memória (e igualmente boas mnemónicas).

Anos passados e encontrei-me eu no aeroporto, de malas aviadas pronto a embarcar rumo a leste – à Lituânia. Dez meses que seriam passados em regime de voluntariado numa biblioteca ao abrigo do programa da Comissão Europeia denominado SVE (ou EVS para quem é mais international).

Em Plungė, uma pacata vila a 300 km de Vilnius, encontrei um novo modo de viver, mais sereno, livre e verdadeiro. A biblioteca municipal, localizada num belo edifício histórico embrenhado num grande parque verde passou a ser o meu novo local de trabalho e de aprendizagens. Não se pense que passei os dias apenas rodeados de livros, a catalogar e a limpar-lhes o pó! A biblioteca era acima de tudo um local social, onde todos, novos e velhos, se encontravam. Foi lá que tive o meu primeiro contacto com a língua local, onde troquei as minhas primeiras impressões sobre a dualidade das realidades/vivências/costumes… Deram-me espaço para escrever no jornal local, dar workshops de inglês, dinamizar o espaço infantil, fazer tours pela vila, ajudar o suporte de média e materializar um projeto de leitura entre crianças e cães!

O SVE deu-me igualmente um país cheio de outros voluntários, de diversos países, empenhados em fazerem a diferença e a desafiarem-se, tal como eu. Os fins-de-semana eram passados com muita frequência a saltar de casa em casa num périplo nacional de fazer inveja à Volta à Portugal….

O que ao início me parecia irremediavelmente estranho (o tempo, a língua, o dia-a-dia, a dinâmica social…) foi-se tornando aos poucos e poucos bastante familiar. Tão familiar que chegado ao fatídico dia de regresso, findos os 10 meses, o desejo de ficar era imenso. Na verdade não tardou o meu regresso para matar as saudades da minha família . Anseio pela próxima!

Vitor Marques