Um semestre em Łódź, Polónia

Erasmus na Polónia Alice

Olá!  O meu nome é Alice e, neste momento, tenho 26 anos. Venho contar-vos sobre a minha aventura de Erasmus+ durante 6 meses na Polónia. A escolha do país foi, na verdade, uma quase não escolha. Na altura, o meu curso (Engenharia Biomédica) tinha apenas duas parcerias, na Polónia e Turquia, pelo que que a escolhia recaiu pela primeira. 

A verdade é que ir viver para um país desconhecido deixa-nos desassossegados e, ao mesmo tempo, bastante excitados. É, sem dúvida, uma mixórdia de sensações que só se volta a sentir no regresso a casa. Não viajei sozinha, o que na altura, ajudou imenso. No fim, posso dizer que se não fosse acompanhada, ter-me-ia aventurado sozinha, porque a experiência excede o que medo que possamos sentir de irmos sós. Fui acompanhada com colegas de turmas (e grandes amigas) e, acontecerem logo muitas peripécias.

Saímos cedo de Portugal, no entanto, chegámos já de madrugada à Polónia. Começamos por pedir informações sobre como chegar à cidade (Łódź = barco), mas que devido à nossa péssima pronúncia, as pessoas não reconheceram a cidade. Após algumas horas, lá consigamos chegar às residências universitárias. Nunca irei esquecer o quanto adorei o quarto (duplo) que nos foi fornecido.  No dia seguinte, começamos por nos ambientar pelas redondezas e percebemos que no campus tínhamos tudo o que precisávamos – um bar/café, um mercado (Biedronka – do grupo português Jerónimo Martins) e transportes, para além que estávamos perto da Universidade onde iríamos ter aulas.

Não posso dizer que o início não meteu medo, é sempre desconfortável estarmos num ambiente estranho. Tenho de reconhecer o excelente trabalho de receção da Universidade de Łódź e, especialmente, do ESN (Erasmus Student Network) que fizeram/fazem um trabalho excecional para que todos os estudantes estrangeiros se conheçam e se integrem. As viagens e formações promovidas pelo ESN foram das experiências mais gratificantes, uma vez que, permitiram a nossa verdadeira inclusão na nossa nova comunidade. O programa dos mentores, também, foi uma ajuda inicial significativa. 

Łódź não era sítio muito acolhedor se saíssemos da zona mais estudantil: a maior das pessoas não falavam inglês nem gostavam de falar com estrangeiros (creio que é uma questão histórica). Por outro lado, a cidade compensa por ser, também, uma cidade extremamente estudantil com uma elevada percentagem de estudantes estrangeiros e com uma das maiores ruas da Europa, Piotrkowska (> 4 km). Um dia, ou melhor, dizendo uma noite, atravessei a rua a pé – daquelas coisas para contar aos netos. 

A universidade, também, promovia, aos sábados, eventos para os alunos de Erasmus. Através desta iniciativa, assisti uma ópera pela primeira vez e fomos visitar o maior cemitério judaico da Europa, que se localiza na cidade. Foi no meio de tantos convívios que conseguimos aprender, ensinar, discutir (no bom sentido da palavra) assuntos, de perceber quem são as outras pessoas que não têm a mesma aprendizagem cultural que nós. As mais valias destas interações são inenarráveis e impossível de quantificar o quanto influencia no desenvolvimento pessoal. Quando saí de Portugal nunca tinha viajado para fora do país, quando regressei já tinha visitado 5 países novos e muito mais cidades, incluindo uma das mais marcantes – a visita aos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau. 

Há sempre um lema de Erasmus que é, mais ou menos: o tempo em Erasmus é o melhor da tua vida. Após 6 anos, não posso dizer que foi “o” melhor, porque isso seria triste, uma vez que, significaria que a tua vida aos 20 anos atingiria o pico, mas, é, sem dúvida, uma experiência que me marcou profundamente e que me moldou enquanto pessoa.

A Polónia é, climatericamente, um país frio, porém, encontrei lá pessoas bastante “quentes”, o que dá razão a quem diz que o que importa são as pessoas, não o sítio. Algumas que já tive o prazer de reencontrar em Portugal e em outros países europeus. 

Não há ninguém que consiga descrever, verdadeiramente, o que é uma experiência de estudo de Erasmus, porque: i) é muito específica, afinal todos absorvemos vivências de forma distinta; ii) só vivendo é que se entende; iii) só depois de regressar é que percebemos o impacto que teve em nós. O mundo parece assustador, a não ser que o conheças. Se há uma oportunidade, deves agarrá-la.

P.S: Tenho muitas memórias felizes na Polónia e, por isso, fico triste pelo rumo que o país está a envergar. Espero que o futuro seja mais risonho.

Alice Ferreira

Um Semestre na Roménia

Roménia no Inverno

Necessário – Uma das palavras que descrevem o que sinto em relação ao Erasmus. Mesmo havendo o risco de se reprovar um ano ou um semestre, que por acaso foi o que me aconteceu, acho que o Erasmus é uma experiência pela qual todos os estudantes deviam passar. 

Experienciar em primeira mão uma cultura e métodos de ensino diferentes aos quais não estamos habituados; criar laços com pessoas de diversas nacionalidades; para alguns, a primeira vez que vivem sozinhos, sem ter quem lhes faça a comida ou lhes lave a roupa. Todos estes fatores, entre muitos outros, são o que torna o Erasmus na experiência tão incrível que é.  Por mais livros ou filmes que uma pessoa veja, nada se compara à convivência diária com pessoas de diferentes culturas. Convivência tal que pode até ser capaz de desconstruir muito daquilo que sempre tomamos por assumido e que nos permite ver para além do muro que, por vezes, nos barrava o caminho.

No meu caso, eu escolhi realizar o meu Erasmus na bela cidade de Brasov na Roménia, onde pude contemplar um cenário completamente oposto àquele a que estava acostumado. Tendo nascido em Santa Maria – Açores, habituado a um clima tropical e rodeado pelo mar, vi-me, pela primeira vez na minha vida, rodeado de montanhas e de neve para onde quer que olhasse – até achei engraçado quando, num dia em que estava a tremer de frio, um cidadão romeno me diz que aquele estava a ser um inverno bem agradável comparativamente a outros passados. Outra coisa que só me é possível devido à minha longa estadia no país, proporcionada pelo Erasmus, é poder desacreditar muitos dos estereótipos que me foram impingidos acerca da Roménia, especialmente no que toca à raça cigana. Ao saberem o meu destino, alguns membros da minha família e amigos, sentiram-se um tanto preocupados com a possibilidade de me vir a acontecer algo de mal. Pois bem, aproveito este momento para dizer que tais estereótipos não fazem jus à realidade. Nunca me deparei com nenhum dos problemas de que tanto me tinham alarmado, pelo menos não mais do que aqueles que já testemunhei em Portugal ou qualquer outro país que já tenha visitado. 

Relativamente ao ensino, devo afirmar que, pelo menos na universidade em que estive, este era relativamente mais relaxado comparativamente ao que estou habituado. No entanto, tal afirmação não significa que os estudantes de lá saibam menos que os de cá! Enquanto que em Portugal, pelo menos nas áreas de engenharia, o ensino consegue ser bastante teórico e à base dos cálculos, na Roménia eles focam-se mais na parte prática e funcional daquilo que nos está a ser ensinado. Por exemplo, acredito que se fosse fazer um exame de Portugal com o que me foi lecionado na Roménia, sentiria uma enorme dificuldade em obter uma nota satisfatória. Por outro lado, num dos departamentos de investigação da universidade da Roménia, existia cerca de uma dúzia de carros de fórmula 1 desenvolvidos pelos alunos da universidade, e foi-me também dada a possibilidade de trabalhar com alguns dos softwares de engenharia mais bem galardoados da altura.

Assim sendo, reafirmo a minha palavra chave no que toca ao Erasmus – Necessário.  É uma das poucas oportunidades que podemos vir a ter de experienciar o que é viver noutro país, sem que haja necessidade de uma mudança drástica na vida, como uma mudança de emprego ou de casa. Ainda assim, acredito que seja uma experiência ainda melhor, simplesmente pelo facto de termos a oportunidade de a viver com jovens de diferentes partes do mundo que embarcam na aventura com o mesmo entusiasmo e emoção que nós.

Miguel Batista